Imersão no sudeste asiático
Um pouco do que vivenciei no Camboja, Mianmar, Vietnã e Tailândia em 2018.
A dificuldade de atravessar a rua em Hanoi, capital do Vietnã, onde se vê um dos trânsitos mais malucos do mundo.
A viagem
Nos últimos dias do ano de 2017, parti para um mochilão de dois meses pelo sudeste asiático. Nunca tinha viajado por tanto tempo, nem tampouco ido a Ásia. Escolhi essa região em específico pela diversidade cultural e pelos bons relatos de alguns amigos e conhecidos que haviam estado por lá - confesso que sabia pouco sobre os países que fui antes de pesquisar (e ir). Foram meses de pesquisa.
Como fotógrafa e sendo apaixonada pelo gênero documental, conhecer um pouco da cultura desses países foi uma grande experiência. Compartilho aqui algumas das fotos que fiz e coisas que vi. Cada um dos países é um universo e são necessárias dezenas de fotolivros para retratá-los, mas bem, o que registrei pode ao menos dar um gostinho.
Vila de Indein, na região do lago Inle, em Mianmar.
Vietnamitas em Hoi An antes da final da Copa da Ásia sub 20, contra o Paquistão.
Mercado tailandês nas proximidades de Chiang Mai.
Crianças cambojanas na vila de pescadores Preaek Svay, em Koh Rong, depois de ganhar côco dos turistas.
Mianmar (antiga Birmânia)
O país mais extenso do sudeste asiático foi diferente de tudo que eu já havia visto. Na casa dos 50 milhões de habitantes, sua população é composta por mais de 100 grupos étnicos. Embora haja uma coesão em termos religiosos - cerca de 90% são budistas - a grande diversidade étnica gera conflitos há décadas, também fomentados pela instabilidade política que perdura desde que o país tornou-se independente da Inglaterra, no ano de 1948. Seu governo parlamentarista é ainda recente: em 1962 teve início a ditadura militar que isolou Mianmar do mundo, regime dissolvido apenas em 2011, quando configurou-se um novo governo civil - embora ainda composto em maioria por militares. Em 2016 foi eleito o primeiro presidente não militar e, aos poucos, têm-se restabelecido não só a democracia como também as relações internacionais e o turismo.
Quando estive por lá, passei pelas cidades de Yangon, Bagan, Mandalay e pela região do Lago Inle. Pude constatar a Birmânia é pouco desenvolvida e bastante desigual socialmente, além de ser o lugar menos globalizado que conheci, visto que sua ditadura o isolou durante anos. Isto é, em 2018 não havia nehum restaurante fast food americano. Mas confesso que, para a minha surpresa, vi lojas das brasileiras Havaianas e Ipanema em Yangon, a maior cidade. Notei que a grande maioria das pessoas usava chinelos - talvez pelo clima tropical e o poder aquisitivo. De qualquer forma, ainda que enfrentem um cenário político, social e étnico complexo, os birmaneses são bem solícitos e amigáveis.
Um pouco sobre os lugares em que passei: Yangon foi a capital até 2006 (que tornou-se Naypyidaw), mas ainda é a principal cidade e a maior do país. Movimentada e muito quente, possui mais de 4,5 milhões de habitantes. Lá, a desigualdade social é bem evidente: enquanto a maioria das pessoas vive de maneira extremamente simples, vê-se alguns poucos edifícios, carros e lojas de luxo, além da Shwedagon Pagoda, toda de ouro, um dos mais importantes templos budistas do mundo. Segundo a lenda que contam, abaixo da pagoda há alguns fios do cabelo do Buda.
Já Bagan, o motivo que leva a maioria dos turistas a Mianmar, tem uma atmosfera bem diferente. Uma planície com cerca de quatro mil pagodas e templos budistas construídos entre os séculos 11 e 13 compõem um sítio arqueológico singular. Adicione, então, alvoradas e pores do sol cinematográficos: eis uma combinação digna de cartões postais. É, de fato, uma aventura alugar uma "bicicleta elétrica" (que mais parece uma moto, mas não necessita licença) e se perder por entre os muitos templos e ruínas que, em meio à natureza, formam um belo cenário.
Por fim, o Lago Inle. Com área de 116 km² e a 880 metros de altitude, é o segundo maior lago do país. Há cerca de 70 mil pessoas vivendo ao seu redor, seja em palafitas ou em pequenas vilas, como Nyaung Shwe, onde eu e a maioria dos turistas fica hospedada. Sair bem cedo e percorrer o lago de barco é o melhor jeito de contemplar sua imensidão, conhecer as vilas locais e entender como vivem as pessoas da região - que não é uma metrópole como Yangon, nem um antro arqueológico super turístico como Bagan. É também singular.
Shwedagon Pagoda: um imponente templo de ouro que contrasta com a realidade vista em Yangon, a antiga capital de Mianmar.
Tráfego intenso nas ruas de Yangon.
Imagens: feiras livres são muito comuns em todo o país.
Imagens: Fachadas e prédios no centro de Yangon.
Imagens: no trem da linha circular que percorre os arredores de Yangon, se vê bastante comércio à bordo e as dificuldades da população que vive na zona periférica e rural.
Imagens: Principal atrativo turístico de Mianmar, Bagan tem mais de 3800 pagodas e templos centenários.
Acúmulo de lixo, lado não tão belo de Bagan.
Imagens: O nascer e o pôr do Sol, lado bem belo de Bagan.
Imagens: Cenas capturadas sob às águas do Lago Inle.
Imagens: Vila de Indein, nos arredores do Lago Inle.
Vietnã
Trânsito caótico, chapéus cônicos de palha e a cerveja mais barata do mundo: não há nada como o Vietnã. Seu longo território percorre a costa leste do sudeste asiático, com clima tropical e monções intensas no verão. O agito nas cidades contrasta com a paz no campo, onde plantações de arroz compõem não só a paisagem como a mais rentável fonte de exportação do país. A economia, que cresce desde os anos 90, é considerada socialista de mercado. Quanto a religião, o budismo predomina, como em seus vizinhos; entretanto, o Vietnã, laico, é o menos religioso. No pano de fundo, um histórico de resistência: séculos sob o domínio da China Imperial (111 a.C até 938 d.C), décadas sob o da França (1885-1954) e, mais recentemente, a Guerra do Vietnã (1954-1975), em que os Estados Unidos interviram diretamente. Portanto, foi natural a influência que esses países exerceram em diversos aspectos da cultura vietnamita.
Também naturalmente, os eventos desse último século desencadearam mudanças significativas. Com mais de 90 milhões de habitantes, a República Socialista do Vietnã é governada pelo Partido Comunista desde a reunificação entre o Vietnã do Norte e o Vietnã do Sul (1976). Assim como o fim da guerra (1975), a reunificação é um marco importante da história vietnamita ainda muito recente. A paz é recente. E é pauta nacional não somente contar a história e homenagear os que ficaram pelo caminho, como também apoiar aqueles que ainda sofrem consequências - como gerações em série impactadas pelo Agente Laranja (herbicida extremamente tóxico lançado por aviões americanos na guerra que causou danos físicos e neurológicos com implicações genéticas). Não é para menos.
Um pouco sobre os lugares em que passei: a capital do país e uma cidade milenar, Hanoi junta de maneira única história, cultura, arquitetura, cafés e motos (muitas motos). O tráfego é, de fato, um fenômeno - e reflexo da maneira organizadamente caótica com que a cidade se movimenta. As ruas estreitas do centro histórico concentram parte desse caos charmoso, além de agito e comércio variado. Assim como em todo o país, na capital come-se muito bem, seja em restaurantes ou na rua; a gastronomia vietnamita é complexa, delicada e saborosa.
Mais abaixo no mapa, a Cidade de Ho Chi Minh é o centro econômico e a cidade mais populosa do país (8,5 milhões de habitantes). Chamava-se Saigon enquanto capital do Vietnã do Sul, mas recebeu o nome do revolucionário socialista quando reconquistada pelo Norte. No comércio, arquitetura e estilo de vida se vê uma maior influência ocidental (e capitalista) em comparação a Hanoi - e o tráfego é levemente mais organizado (levemente). Dentre as suas atrações, estão museus e monumentos da guerra e reunificação, bons pontos para conhecer melhor a história recente do país.
Na região central, Hoi An é bem diferente das duas metrópoles que descrevi; essa antiga cidadezinha portuária é conhecida pelas lanternas coloridas que iluminam suas ruas, tornando-a bastante charmosa (e turística). Patrimônio Mundial da UNESCO, o centro histórico dispõem de atrações culturais e restaurantes de excelência - Hoi An é um dos antros gastronômicos do Vietnã. É também interessante sair do centro e adentrar a área rural, observando a tranquilidade em meio aos campos de arroz nos arredores da cidade. Diferente do aglomerado de lanternas, é esse o cenário que mais se encontra percorrendo o território vietnamita, de norte a sul.
Imagens: Hanoi, a capital do Vietnã.
Três vietnamitas fofas me abordaram pra praticar inglês ao redor do lago Hoan Kiem, em Hanoi.
Imagens: registros analógicos das ruas de Hanoi.
Imagens: tráfego de motos na Cidade de Ho Chi Minh.
Hora do almoço em Ho Chi Minh.